O dízimo na comunidade
POR ARISTIDES LUIZ MADUREIRA
Ouvi atentamente um bispo do interior de São Paulo falar sobre uma experiência vivida por ele em uma romaria, aliás, intitulada “Romaria da Terra”. Algumas centenas de pessoas, umas com bandeiras, outras empunhando faixas, denunciavam empresas que poluíam rios naquela região. A caminhada era longa. O grupo revezava em carregar também uma cruz, que ao chegar ao rio, foi mergulhada ao som de cantos e aplausos.
Somente, então, um dos organizadores aproxima-se do bispo e pede a ele a benção para encerrar. Foi quando o bispo, que ao longo de toda jornada permanecera em silêncio, falou: “Creio que podemos iniciar nossa caminhada orando. Todos se entreolharam, pois se esqueceram de orar. Após a oração, antes de dar a benção fez a seguinte observação – Muito bem, estamos cumprindo nossa jornada em prol da natureza, mas não basta cantar e empunhar bandeiras e faixas de denúncia é preciso antes, evangelizar com exemplos. Percebi que muitos aqui jogaram suas garrafas de água ao longo do caminho. Como denunciar sem antes testemunhar? Vamos retornar então como viemos, mas agora, pegando as sujeiras deixadas. E daí sim, teremos como anunciar a Boa Nova”.
Estamos próximos de uma eleição, e é nesse momento que mais ouvimos sobre cidadania, direitos humanos e muitas promessas. A população torna-se alvo de um jogo imenso e intenso de interesses. Aliás, mais propriamente dito, um único interesse: o voto.
Nosso inesquecível Saramago dizia: fala-se muito em direitos humanos, mas estamos nos esquecendo de refletir sobre os deveres. Acredito que se cumpríssemos nossos deveres para com o próximo, de sobremodo os menos favorecidos, não precisaríamos lutar tanto pelo correto cumprimento dos direitos.
As comunidades eclesiais podem e devem ser escolas de cidadania. Por isso, é imprescindível focar uma Pastoral do Dízimo democrática, focando em ações que permitam uma comunhão entre os membros que acreditam na missão e objetivo da evangelização.
3 benefícios para uma boa gestão na Pastoral do Dízimo
- Uma gestão honesta, transparente e participativa é um caminho formador.
- Uma administração que vise o bem comum e que faça com que os recursos alocados retornem para o povo torna-se uma administração de testemunho.
- Atender as dimensões religiosa, social e missionária de uma paróquia, com equidade e justiça é o melhor modo de se ensinar cidadania.
Às vezes denunciamos, reclamamos e julgamos o governo e sua maneira de administrar, mas não observamos que, ao longo do caminho, alguns de nós deixamos garrafas plásticas. É preciso que façamos o caminho de volta. Como? Revendo nossos métodos administrativos, investindo mais e de sobremodo na dimensão social, com projetos que dignifiquem a pessoa humana, que diminuam a desigualdade e fortaleçam a unidade.
Muitos sacerdotes e leigos me perguntam: como fazer para que as pessoas contribuam? Primeiramente dando testemunho. Depois administrando com retidão, e tornando-as sujeitos da administração. Elas têm o direito de saber o quê, por quê, para quem, e como os recursos são utilizados.
Se o sacerdote deseja fazer algo na paróquia, antes deve esclarecer os fiéis, contar com a participação deles, envolvê-los do pensar ao agir. Para tanto, é preciso que saibam exatamente aonde querem chegar, e devem ser consultados para sugestões de como chegar onde todos desejam. E que todo o processo não irá beneficiar a uns e outros, mas a todos.
É difícil este tipo de administração?
Difícil é derrubar paradigmas. Promover mudanças. Reconhecer que é preciso refazer o caminho. A administração participativa é a resposta a muitos dos desafios da modernidade.
Invista na Pastoral do Dízimo, realize em sua paróquia o projeto Dízimo e as Obras de Misericórdia. Invista também no conselho econômico com palestras, treinamentos que ofereçam instrumentos eficazes de gestão. Invista nos leigos. Confie na participação consciente deles. Somente assim poderemos na prática, demonstrar o que nós, cristãos, esperamos dos candidatos. Saberemos cobrar por projetos, fiscalizar as ações e lutar no pleno exercício de nossos deveres, pela correta aplicação dos direitos. Seremos, então, melhores cidadãos.
Aristides Luis Madureira é Missionário leigo na Igreja do Brasil há mais de 20 anos. Formação em comunicação, com especialização em
média eletrônica. Graduado em Processos Gerenciais e Pós-Graduando em Planejamento e Marketing. Diretor da Editora A Partilha. Autor de várias obras dentre elas se destacam: Pastoral da Partilha Manutenção; Novena do Dizimista; Princípios Básicos do Secretariado Paroquial.
Contato: aristides@editoraapartilha.com.brSite:www.editoraapartilha.com.br